André Cardoso Vasques,
Advogado, Sócio da Xavier Vasques
Advogados Associados.
Todos sabem que a vida nas grandes cidades está virando um caos em termos de mobilidade. Perdemos horas do nosso dia em engarrafamentos e nos habituamos a cobrar do poder público obras viárias, novas vias para o tráfego de carros, viadutos etc., pois pela lógica que estamos habituados essa parece ser a única solução.
Ocorre que as obras, quando feitas, são caras e ineficientes, visto que, quando ficam prontas, não suportam o número de veículos que aumenta velozmente. Elas já nascem defasadas.
A população mundial cresceu vertiginosamente; somos, atualmente, 7 bilhões de pessoas na Terra, e a projeção é de que seremos 9 bilhões até o ano de 2050. Essa população está concentrada em centros urbanos, e o fluxo migratório do campo para as cidades continua.
No Brasil, segundo o Censo IBGE 2010, 84,4% da população vive nos centros urbanos. Tudo isso, aliado ao fato de privilegiarmos o transporte individual em automóveis, faz com que o trânsito nas cidades seja o caos que conhecemos. E isso tende a piorar.
A frota atual de automóveis no mundo é estimada em 800 milhões. Esses veículos liberam grande quantidade de poluentes, inclusive gases responsáveis pelo efeito estufa.
Precisamos romper a lógica de que o caminho é o transporte individual por automóveis, para que seja possível uma vida ordenada e de qualidade, principalmente nos espaços urbanos, e para preservação do meio ambiente. É dispensável falarmos aqui sobre o quanto são poluentes os veículos. Sabemos, pelo nosso dia a dia, quando o ar está “pesado” e as inúmeras doenças de que somos vítimas.
A previsão é que no Brasil, até o ano de 2014, teremos um automóvel para cada habitante.  E o pior é que esses números são otimistas para os fabricantes de veículos, pois acham que o país pode atingir o nível europeu, ou seja, um automóvel para cada dois habitantes.
O resultado de tudo isso são cidades destinadas à circulação e ao estacionamento de automóveis, deixando de ser um espaço para a vida das pessoas, com qualidade e solidariedade.
Essa lógica precisa ser rompida e o caminho é educação e conscientização da sociedade civil.
É preciso que as pessoas priorizem os seus deslocamentos através do transporte coletivo. Ao poder público, porém, cabe a tarefa de providenciar que este seja eficiente, confortável, de ótima qualidade e de valor acessível ou, pelo menos, justo.
Ao invés de cada vez mais obras visando facilitar o fluxo de automóveis nas cidades, que sempre estão defasadas, é preciso investimentos em transporte coletivo de qualidade.
Meios alternativos de deslocamento também devem ser priorizados, como bicicletas. É preciso a construção de ciclovias nas cidades. Aliás, no momento em que escrevemos esse artigo, ocorre em Porto Alegre o Primeiro Fórum Mundial de Ciclismo. A sociedade civil desperta e se organiza para essas questões. Ah, sem falar que a bike é um meio de transporte extremamente saudável.
As alternativas são muitas. Hoje várias empresas incentivam a carona solidária, ou seja, os funcionários se organizaram para os deslocamentos casa-trabalho e retorno em grupos utilizando apenas um automóvel.
É absurdo vermos nas cidades quilômetros de engarrafamentos e no interior de cada veículo apenas uma pessoa. Infelizmente, essa é a regra no Brasil.
Nem é preciso referir que, independentemente da lógica sobre a qual falamos ser alterada, os consumidores devem exigir dos fabricantes de veículos automóveis menos poluentes.
O importante é que alternativas existem, seja com transporte coletivo de qualidade, seja com ciclismo, carona solidária, estacionamentos subterrâneos nos locais de maior fluxo de trânsito nas grandes cidades, como nos centros, liberando o espaço urbano para as pessoas circularem com qualidade, etc.
Enfim, se é verdade que a paixão do brasileiro é o seu carro, o qual numa sociedade de consumo passou a ser símbolo de status, também é verdade que esse mesmo brasileiro não está mais a fim de respirar um ar poluído, de passar horas do seu dia trancado em engarrafamentos e ter que montar uma estratégia cada vez que sai de casa para estacionar o seu automóvel.

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